Um segredo dos
investidores em Valor
Investimento em valor não é tão
simples como comprar uma nota de um dólar por cinqüenta centavos e depois vende-la quando atingir $1. Algumas
vezes você pode fazer muito melhor do que isso. Whitney
Tilson explica como tirar vantagem das “opções
embutidas”.
Por Whitney
Tilson
3 de
dezembro de 2003
Tradução
e adaptação SER-
Investidores em valor vêm em
vários formatos e tamanhos. Alguns investem em imóveis, outros em títulos
(normalmente os mais desvalorizados) e alguns outros em ações. Alguns se
especializam em algumas indústrias ou países, e outros se tornam mais
generalistas. Mas, a maioria dos investidores em valor possuem duas coisas em
comum: (1) Eles procuram comprar com um desconto significativo em relação ao
valor intrínseco (a metáfora da nota de um dólar por cinqüenta centavos); e (2)
Eles vendem quando o valor intrínseco é atingido. Durante a minha carreira como
investidor, eu acreditei piamente nesses dois princípios, mas, com o passar do
tempo, fui fazendo alguns ajustes quando comecei a entender melhor o que eu
chamo de “opções embutidas”. Opções embutidas são algumas coisas que possa
fazer uma ação apreciar-se ainda mais – em outras palavras, comprar uma nota de
um dólar por cinqüenta centavos e ter a grata experiência de vendê-la não por $1, mas por $2 ou mais. Embora não perder dinheiro seja o
fator mais importante em um investimento de longo-prazo, o segundo certamente é
possuir algumas poucas ações que se valorizaram varias vezes com o passar do
tempo.
Verdadeiros Foguetes
Quais são as fontes de “opções
embutidas?” O que faz uma ação decolar? É claro que existem muitas razões para
isso, mas as que eu encontrei mais freqüentemente foram: (1) Um negócio
excelente que foi abalado por alguma decepção passageira, fazendo a ação
despencar, algum tempo depois o negócio retorna para suas características
econômicas anteriores; e (2) Uma companhia pertencente a um setor aonde os
investidores são bastante irracionais, que se deixam contaminar pelo pessimismo
(em que nenhum preço é baixo demais que não se possa vender) e pela euforia (em
que nenhum preço é alto demais que não se possa comprar).
Durante quase três anos, as
ações do McDonald's (NYSE: MCD), que eu considero um
dos melhores negócios do mundo, caíram de $50 para $12,12. Mais ou menos na
mesma época, um outro negócio fabuloso, o Home Depot (NYSE: HD), caiu de $70 para $20,10. A partir daí, o McDonald's mais que dobrou de preço e o Home
Depot também.
Quando as ações que eu tenho na minha carteira sobem rápido assim, eu começo a
pensar em vender. As posições já subiram bastante e a margem de segurança
diminui ou acaba. Apesar disso, eu continuo com esses dois papéis. Por quê?
Principalmente porquê eu me surpreendo, cada vez mais, com a qualidade desses
negócios, como são bem administrados e sempre prontos a superar minhas
expectativas (que tendem a ser bem conservadoras – um dos
pontos chaves do investimento em valor). Eu acredito que o McDonald's e o Home Depot continuam sendo excelentes negócios e acredito também
que seus grandes esforços para decolar novamente irão trazer resultados
compensadores por pelo menos mais dois ou três anos. Se eles fossem negócios de
baixa qualidade, eu já teria vendido.
Explorando o que é dito por aí
Eu me sinto um pouco culpado ao
admitir que levo em consideração o que é dito por aí nas minhas decisões de
investimento, da mesma forma que acredito que o “Mr. Market” está lá para me servir e não para me guiar. (Warren Buffett descreveu a
parábola do “Mr. Market” na
metade de sua Carta anual de 1987.) Tem sido doloroso assistir a ValueClick (Nasdaq:
VCLK) passar de $10 (quando eu vendi por volta de $3 ) e o E*Trade (NYSE: ET) subir acima dos $11 quando eu já tinha
vendido a alguns meses atrás por menos de $7. Consegui um excelente lucro em
ambas as ações, mas deixei também uma pilha de dinheiro em cima da mesa.
Qual foi o meu erro? De uma
certa forma, o negócio saiu-se melhor do que eu esperava (embora eu não ache
que ambas empresas continuem ainda sendo bons negócios), assim, quando eu
imaginava que estava vendendo os papéis próximos do seu valor intrínseco, eu
tinha, na verdade, sido conservador demais. Mas, meu maior erro foi não
compreender que essas eram ações do setor de tecnologia e que, uma vez que elas
voltassem a ficar a favor da maré iriam começar a subir novamente e os tipos de
“investidores” que gostam do jogo do “momentum” embarcariam nela elevando seu
preço acima do seu valor intrínseco. Mesmo sem receber todos os benefícios
dessa alternativa, eu poderia, pelo menos, ao invés de vender todas as ações de
uma só vez, ter vendido apenas a metade e depois ir vendendo o resto aos
poucos, à medida que os papéis fossem subindo.
Empresas Medíocres em
Indústrias Chatas
Pode parecer óbvio que todos
nós deveríamos procurar investir em empresas de alta-qualidade, e, melhor
ainda, em setores em que os investidores são conhecidos por pagarem preços
ridiculamente altos pelos seus papéis. Mas, na prática, muitos investidores em
valor acabam com umas carteiras compostas por empresas medíocres em setores
chatos, principalmente por duas razões:
Primeiros porquês ações de bons
negócios raramente ficam baratas (eu esperei anos para que as ações da Home Depot ficassem baratas o
suficiente para que pudesse comprar). Segundo porquê os setores chatos são
normalmente mais fáceis de entender - existem poucos requisitos para se entrar
no seu círculo de competência e prever seu futuro com algum grau de precisão.
Duas características que não estão presentes em muitos setores como, por exemplo,
os de tecnologia, muito freqüentado pelos membros mais idiotas do clube do
“ouvi falar”.
Ter uma carteira composta de
negócios medíocres em setores chatos não é, necessariamente, uma coisa ruim.
Dois investidores lendários, Walter e Edwin Schloss bateram o mercado por décadas seguidas tendo em sua
carteira nada além de guimbas de cigarro
ultrabaratas.”Mas, aqui, ultrabarata
é a palavra chave. Várias experiências dolorosas me ensinaram que, se você vai
pescar bem no fundo do poço, tem que se assegurar que possui uma margem extra
de segurança, porquê esta vai ser a única forma de ganhar dinheiro.
Considere, por exemplo, a
Universal Stainless & Alloy
Products
http://quote.fool.com/uberdata.asp?symbols=USAP(Nasdaq: USAP), uma metalúrgica
especializada em um nicho do mercado, no qual eu fui cuidadoso o suficiente de
não comprar perto do pico no ano passado. Eu avalio que a companhia tenha uma
boa estratégia, a administração esteja fazendo seu trabalho direito e ela
esteja melhor posicionada que suas concorrentes. Mas, como eu discuti em uma
outra coluna, ano passado, ela pertence a uma das piores indústrias
imagináveis. A administração não possui qualquer controle sobre a demanda por
encontrar-se em um setor extremamente cíclico, sobre os preços de uma comodity, sobre os impostos, sobre as importações, e assim
por diante. Por isso, mesmo quando as coisas estão indo muito bem para a
economia, as características econômicas de Universal Stainless
podem começar a piorar. E, por fim, os investidores nunca ficam muito
empolgados com as empresas metalúrgicas.
Então, por quê eu ainda tenho
esta ação na minha carteira? Porquê acredito que, se a economia continuar a
ganhar força, a companhia poderá lucrar entre $2 a $3 por ação. Se isso acontecer,
eu nem preciso torcer por um grande entusiasmo por parte dos investidores.
Mesmo assumindo um baixo P/L de 10 os lucros elevarão
os preços da ação para uma faixa de $20-$30, muito superior aos preços
praticados hoje, em torno de $8.
Merck e Liberty Media
Duas ações fora-de-moda
que acredito que possuam os dois tipos de “opções embutidas” discutidos
anteriormente são a Merck (NYSE: MRK) e a Liberty Media (NYSE: L). Eu não possuo atualmente nenhuma
das duas ações porquê ainda não estou convencido que os problemas que afetam
essas duas empresas sejam temporários. Porém, se você se convencer que o famoso
departamento de P&D da Merck irá desenvolver remédios revolucionários com alguma
constância, então este papel provavelmente voltará a ser um grande vencedor. As
características econômicas de um negócio como esse são maravilhosas e os
investidores sempre se empolgam com ações do setor farmacêutico.
Quando você decidir comprar uma
ação ou quando (e em que quantidade) vendê-las, valerá a pena lembrar-se das
“possibilidades embutidas”.
Whitney Tilson é um antigo colunista do The
Motley Fool. Possui ações
da McDonald's, Home Depot, e USAP no momento da publicação desse artigo, embora
essas posições podem se alterar com o tempo. Mr. Tilson apreciaria seu feedback em [email protected]. The Motley Fool is investors writing for investors.